sexta-feira, 14 de maio de 2010

Europa: medo e frustração

A Europa foi sempre uma fascinação e raiz para todo o Brasil, principalmente nos séculos 19 e 20. A Cidade Luz, a fonte de todas as melhores manifestações culturais, nomes eternos na literatura e na arte. Do lado econômico, não tomávamos conhecimento. Era quase uma relação humana, e não uma convivência de dois países.
Nabuco foi francês nos primeiros anos de mocidade. Seus versos eram escritos em francês, pois só essa língua comportava suas inspirações. Depois vem a fase de ser inglês, até tornar-se brasileiro pela maior causa que jamais uniu a consciência nacional: a abolição.
Rui, Graça Aranha, Machado de Assis -que traduziu Victor Hugo, "Os Trabalhadores do Mar"-, os poetas do século 19, todos influenciados pelos seus ídolos franceses, a começar por José Bonifácio, que, sob o pseudônimo de Américo Elíseo, era quase um pastel de poesia francesa, ele que como poeta era pálido, ficando na nossa história pelo grande estadista.
Mas isso é coisa do passado. Hoje, depois de passarmos pelos Rothschild ingleses, que nos financiaram no Império, nos jogamos, como todo o mundo, rendidos pela realidade, nos braços dos EUA.
Nada de literatura nem de sonhos românticos. A realidade são as Bolsas e os meios de resistir à globalização financeira, que não é mais uma ameaça de gripe espanhola, mas um contágio em tempo real que pode levar à morte qualquer país.
A nossa Europa, tendo o motor da Alemanha, aspirou e aspira ser um contraponto ao dólar e competir com suas economias de tecnologia de ponta. Este plano todo desembocou numa moeda, o euro, que superou o valor do dólar, matou moedas na Europa do Leste e hoje tem seu lugar no mundo.
De repente, a Grécia, que nunca teve como destaque a força de sua riqueza, e sim os seus deuses, Zeus à frente, desaba e necessita de um salva-vidas, que afinal é dado, de 110 bilhões. Mas não basta. Cria-se um fundo anticrise para ancorar o euro e salvá-lo. A Espanha e Portugal tremem. É preciso ter medidas de controle maior ao deficit público e à gastança.
O sentimento que vive a velha Europa é de medo e de profunda frustração. O desemprego grassa e aumenta, e o sonho de um mercado bem maior do que os EUA cede ao dragão chinês, que já comeu a Alemanha nas exportações e agora quer o seu espaço não como país, e sim como um continente.
Mas da Europa saímos nós e todos os nossos valores. Do "spleen" (melancolia) que vive, em breve tudo se acalmará, nem que seja nas asas de um novo Pascal ou Airbus.
A Europa já passou tempos bem piores. Laval que o diga.
Fonte - Jose Sarney - Folha de S.Paulo