quinta-feira, 13 de maio de 2010

Europa em transe

Quando o ano começou, eu alimentava esperanças de que a minha vida fosse ficar um pouco mais fácil aqui em Washington. A crise internacional estava amainando e a pressão sobre o FMI parecia diminuir.
Não aconteceu. Estamos tendo reuniões da diretoria até no domingo. A Europa não dá descanso. O terremoto europeu, com epicentro na Grécia, afetou grande parte do continente e reverberou no resto do mundo.
O superpacote anunciado pela União Europeia na madrugada de segunda-feira é uma tentativa dramática de estancar a crise. Os primeiros efeitos foram positivos.
Morfina para os mercados, declarou um alto funcionário do FMI. Em grande parte, é uma repetição do que foi feito para lidar com a crise global depois do colapso do Lehman. Com uma diferença importante: procura-se agora atuar em grande escala antes que a Grécia ou algum outro elo fraco provoque uma crise comparável à de 2008-2009. Mas o quadro é desalentador.
Mercados turbulentos, misturando pânico e especulação agressiva, mostram uma capacidade fenomenal de encurralar governos financeiramente frágeis. A matilha de lobos, na expressão de uma autoridade europeia, sente o cheiro de sangue e ataca sem dó nem piedade.
Em resposta, o setor oficial (governos europeus, autoridades regionais, bancos centrais, FMI etc.) procura impressionar os mercados exibindo uma artilharia pesada. Como fizeram em 2008 e 2009, governantes anunciam novamente números estratosféricos de apoio financeiro oficial. Outra vez, aparece a cifra mágica: US$ 1 trilhão ou quase. O FMI é chamado a comparecer com grandes empréstimos. O Banco Central Europeu e outros bancos centrais do continente, depois de muita hesitação, dispõem-se finalmente a comprar títulos públicos e outros papéis duvidosos rejeitados pelo mercado. Voltam as operações de "swap" de moedas entre o Fed e os principais bancos centrais. Em resumo, um deus nos acuda.
Tudo para impedir que a quebra de governos ou de instituições financeiras gere perdas para os credores e recrie um quadro de crise profunda.
Um dos grandes objetivos desses superpacotes é mostrar determinação e poder de fogo na esperança de que o dinheiro anunciado não precise ser totalmente utilizado. Pode funcionar. Nem todo o socorro oficial anunciado pós-colapso Lehman teve que ser desembolsado.
A repetição do artifício leva, porém, ao seu desgaste. Tanto mais que há um elemento de blefe nos números anunciados. Os valores nem sempre estão efetivamente disponíveis.
No caso do FMI, os 250 bilhões que a instituição deveria aportar para socorrer os europeus constituem, de acordo com o divulgado pela administração do Fundo, um valor "hipotético" (sic).
Os europeus parecem ter perdido o rumo de casa. Há pouco tempo, autoridades europeias graúdas consideravam inaceitável que a Grécia, um país da zona do euro, recorresse ao FMI. Agora, os europeus anunciam demandas extraordinárias sobre a instituição, as suas equipes e os seus recursos. No limite, levariam todo o dinheiro que temos aqui -e mais algum.
FMI, não. FME -Fundo Monetário Europeu.
Por Paulo Nogueira Batista Jr. Fonte: Folha