sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ásia retoma a ascensão econômica

Com caixa cheio e avançando no mesmo ritmo de antes da crise, o perigo para os países da Ásia é o superaquecimento 

As colunas do Partenon podem estar desabando. Mas, a meio mundo de distância, os blocos de pedra da Grande Muralha da China, os arcos basálticos do Portal da Índia e até mesmo as Torres Gêmeas da Petronas raramente pareceram mais estáveis. Enquanto a Europa enfrenta crescimento glacial e deficit cavernosos, os asiáticos têm problemas bastante diferentes.
Com caixas repletos e avançando no mesmo ritmo que tinham antes da crise, o perigo para eles, se há algum, é o do superaquecimento.
Nos dez anos que antecederam o choque causado pela quebra do Lehman Brothers, as exportações asiáticas subiram, como proporção da produção total, de 37% para 47%, o que tornou as economias da região mais, e não menos, dependentes da demanda externa. Mas ainda que boa parte dessa demanda tenha desaparecido quando os mercados de crédito se congelaram, no final de 2008, as economias asiáticas mal tomaram fôlego antes de retomar sua escalada. Mais que desacoplada, a Ásia parece imperturbável.
A Ásia menos o Japão -termo que as corretoras empregam para designar a região com a exclusão de sua única porção lenta e deprimida- provavelmente crescerá mais de 8% neste ano. Há 12 meses, isso teria parecido improvável. Cingapura, que encolheu 2% -menos do que se temia inicialmente-, crescerá mais de 6% em 2010. A Malásia, cujo PIB encolheu 1,7% em 2009, terá crescimento de ao menos 5,5% neste ano.
Até a Tailândia, apesar das batalhas campais que assustam os turistas, deve crescer quase 5% em 2010, depois de contração de 2,3% em 2009.
Essas são as economias exportadoras que, em companhia de Hong Kong, Taiwan e Japão, foram as mais prejudicadas pelo choque mundial. Mas outras mal se abalaram. A China cresceu notáveis 8,7% no ano passado -o que decerto é um tropeço se comparado aos 13% de 2007. Mas no primeiro trimestre deste ano o crescimento já estava de volta a 11,9%, gerando preocupações quanto a uma expansão rápida demais. A Índia, um mercado mais fechado que os vizinhos, obteve respeitáveis 7,2% de crescimento no ano passado e em 2010 deve chegar confortavelmente aos 8%.
De que maneira a Ásia se saiu tão bem? O principal motivo foram os imensos pacotes de estímulo oferecidos, liderados pelo gigantesco esforço monetário e financeiro da China. Pequim subsidiou as compras de bens eletrônicos e acelerou seu já monumental programa de construção. Taipei deu a todos os cidadãos, até mesmo a presidiários, vales para consumo. Cingapura, cujo nível de emprego já é maior do que antes da crise, reativou projetos de obras públicas e pagou a empregadores para que mantivessem funcionários.
Não se deve exagerar a escala dessa retroalimentação. A China ainda não é grande o bastante para carregar o mundo nos ombros. Mas pode carregar algumas partes dele. Da mesma maneira que, no passado, o terminal de muitas cadeias de suprimentos era um consumidor norte-americano colocando um DVD em seu carrinho de supermercado, agora temos um funcionário de governo local chinês planejando uma estrada ou siderúrgica. Em alguns casos, temos até um consumidor chinês que -por mais que pareça ser difícil divisá-lo- continua a elevar seus gastos em mais de 10% ao ano. No ano passado, os chineses compraram mais carros e celulares que os norte-americanos. Os volumes de importação da China são 20% mais altos do que antes da quebra do Lehman Brothers, e as exportações do país cresceram 6%. A Ásia, em termos gerais, está produzindo e exportando mais do que nunca.
Fonte: David Pilling - Financial Times